terça-feira, 13 de setembro de 2016

CHISTE


Imagem do google.
Um poema escarnecido, um poema mau humorado
Já vi coisa feia nessa vida
Sei que no mundo, tudo há
Até no beiço do jegue, a ferida
O dono lamber, a praguejar

Já vi a moça desdentada e feia
Vesga por fora e troncha por dentro
Vestir-se de zebra e coleira
E desfilar mal pintada no centro

Já vi coisa feia nessa vida
E sei que muitas hei de ver
Mas por último, dei de testa com o que possa parecer...

E perecia...

Parecia que era algo que não me cabe definir
Como se, de repente, um Górgonas se pusesse a parir
Parecia que era noite e o cão a praguejar
Cerrando os dentes, rosnasse cantigas de ninar
E o dragão abrisse as ventas, sorrindo largamente
Desejando, de vestido, a proeza de ser gente
Parecia que era cólica, dor de quase morrer
A boca que abre e grunhe, mas sem nada a dizer!
Já vi coisa feia nessa vida
E sei que ainda hei de ver...


Fabiana Gusmão, 26 de junho de 2016.

Poema em silêncio












Eu fiz um poema silencioso,
sem vez, sem mácula e sem voz.
Discreto, tímido, orgulhoso;
mas, sem palpite em vós

Calado por gosto,
escondido por bem;
morrerá em seu posto,
não verá a ninguém.

Eu fiz um poema jocoso,
poucos o compreenderiam;
em seu verso sinuoso,
muitos sucumbiriam.

Tímido, discreto, calado;
meu poema prefere morrer,
em silêncio completo e profundo,
à sombra do verbo esquecer.

Fabiana Gusmão


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

DESMEDIDA
















Já não cabe em mim
Esse poema encarnado.
As letras, as linhas,
Já não cabem mais.

Já não visto esta roupa
Que outrora bem vestia.
Ora me sobra, ora me falta,
Estranha desarmonia.

Já não ouço as canções
Que o vento tocava;
Ouço a brisa de agora,
Que de longe soprava.

Já não caibo em meu próprio verso,
Já não caibo em minhas vestes,
Já não cabes cá dentro,
Onde antes coubestes.

Fabiana Gusmão