sexta-feira, 20 de julho de 2012

DIVAGAÇÕES



 Na palavra,
a essência
não seja a sua obsessão.
Tudo está no ver,
no sentir,
no pensar,
no tocar.
O tempo passado,
o presente,
o futuro,
ilusão de ótica,
rudeza da matéria.
Conjuguemos no verbo
somente a essência...
Eu amo hoje,
tu amaste um dia
nós amaremos no final.

Fabiana Gusmão

DO POETA




O poeta perdeu-se no tempo.
Perdeu o tino,
o bom-senso.
Que contratempo!
A poesia ficou sem prumo.
Perdeu o ponto.
Perdeu a vírgula.
O contra ponto.
Dividiu-se ao meio: em dois.
Desandou do destino.
Caminhou invertido.
Que contradição!


Fabiana Gusmão


POSSÍVEL




É possível que o céu se arraste,
que se mova e caia.
É possível que ao fechar os olhos
todo sonho se esvaia.

É possível que o destino incerto
em nada favoreça;
e o que foi, não volte,
mas que permaneça.

É possível que o sol se deite
e a lua se levante;
e que os dois se encontrem
e ninguém se espante.

É possível que nada exista,
e que tudo seja ilusão.
Que a vida seja um poema
Entregue em minha mão.

Fabiana Gusmão

terça-feira, 10 de julho de 2012

TEMPO BREVE

 















Imagem: A Persistência  da Memória - Savador Dali, 1931

As horas são tantas
e tão poucas...
É esta a contradição de agora.
Às vezes por um sonho choras
e enquanto piscas,
outro vai embora...
São tão breves
e, sendo assim,
se atrasam em chegar
o tempo ínfimo,
o momento único,
o curto instante de amar!
E novamente a espera incessante...
Não passa...
Não passa...
Não vai passar.

Fabiana Gusmão

quarta-feira, 4 de julho de 2012

REVELAÇÃO





Perdida entre as cores todas
que aqui, perplexa de encanto,
vejo e sinto
fortes, pulsantes,
desvendo assim teu segredo:
- Sonhaste um dia que voavas
no mais puro azul do céu...
Acordado, já leve e refeito,
animaste o imaginário
com vida, aquarela e pincel...
Por trás da tela o teu sonho
de onde a arte nasceu,
no azul sem fim deste sonho,
retrato, abstração do teu ser! –
Se de cá, de onde estou,
posso ver com verdade,
olhar-te adiante dos olhos,
enxergar distante e além...
Suponho que a arte, o artista, o sonho,
compõem as partes de um todo,
expressam a beleza infinita
guardada na alma de alguém!

Fabiana Gusmão

SILOGISMO





















O que fazer se os dias são vazios,
se entre uma palavra e outra,
aborrece-me a filosofia
e não cabe explicação?
Como se não bastasse
trapacear-me o tempo
e trair-me o destino vil,
não há lógica que me explique
que me cale, que me acalme.
Quantas premissas me restam
e nenhuma conclusão?

“Cogito ergo sum”
Digam-me agora se ainda hei de existir?
Não quero as verdades preparadas,
Embaladas como pacotes de compensação!
Não quero que me racionalizem!
Não tentem me idiotizar!
Não há um só argumento,
nenhuma retórica insipiente
capaz de me convencer
de que existe razão em um devir
insípido, desconexo, irreal...
Determinismos para quem se contenta
em viver por conformidades!

Se tu, somente tu, és a razão da minha vida.
E se, nesse desencontro, nela não estás.
Conclusão mais que cartesiana:
Não há vida, não há...


Fabiana Gusmão