domingo, 28 de novembro de 2021

DEPOIS


Seria perda de tempo,

depois do sol

depois da chuva

de noites memoráveis

e dias inesquecíveis.

Seria perda de tempo,

depois de todo o choro,

depois do riso farto,

de tanto nascer,

crescer,

florir,

morrer.

Seria perda de tempo,

depois da luta extenuante

do descanso tardio,

depois da espera,

da chegada,

e da partida.

Seria perda de tempo,

depois da estrada trilhada,

das encostas,

das paradas,

da luz acesa

e da Lua apagada,

dizer da vida o não vivido.


Fabiana Gusmão Rocha, 28 de novembro de 2021.







sábado, 27 de novembro de 2021

SOBRE PARÁFRASES E CITAÇÕES


Bendita Última Flor do Lácio
e a Cantiga Para não Morrer,

bendito Soneto de Fidelidade

e a Via Láctea ao anoitecer!


Bendita Liberdade Clandestina,

o Fanatismo que não tem fim,

bendito Motivo de cada instante,

e o Amor Feinho que cabe em mim!


Bendito Laço de Fita eternizado

e o Quarto de Despejo a doer

bendito Guardador de Águas,

E as Vozes-mulheres em meu ser.


Benditos Bilac, Lispector, Gular, Vinícius, Meirelles,Espanca, Coralina, Barros,do Prado, 

Evaristo, Alves e de Jesus

bendita a poesia que me salva,

Bendita a arte que me conduz!



Fabiana Rocha,

27/11/2021.









O QUE SOBRA

Ao final do dia sempre sobra um poema,

porque sempre há um luar.

Sempre há um jardim.

Sempre há um regresso.

Sempre há uma partida.

Sempre há uma saudade.

Sempre há um reencontro.

Um amor presente e

outro para recordar...

Uma música antiga

já quase esquecida...

Uma janela para o horizonte

e um sol retirante.

Sons familiares,

risos consoladores

silêncios intermináveis...

Um aconchego,

um afago,

o tempo...

o tempo...

o tempo...

E fim.


Fabiana Rocha

24 de novembro de 2021.


segunda-feira, 15 de novembro de 2021

PARA GOSTAR DE POESIA

 














Para gostar de poesia

andar entre as nuvens

ter sonhos nos olhos

a alma infinita

asas na imaginação.


Para gostar de poesia

pó de magia

casinha na montanha

saudade tamanha

sentir na contramão.


Para gostar de poesia

asas de borboleta

um silêncio profundo

as dores do mundo

ser só na multidão.


Para gostar de poesia

arco-íris

lírio da chuva

limo nas pedras

teia de aranha

som de vento

dança das ondas

viagem do rio

vida...

morte...

coisas do coração.


Fabiana Rocha,

13/11/2021.









CIVILIZAÇÃO


Era uma rua sem beira,
sem asfalto

nem terra

sem calçada

e descalça

era uma rua sem chão.

Era uma estrada erma 

sem ida

nem volta

sem encosta

e na via oposta

era estrada na contramão.

Era um caminho sem sombras

sem guarida

nem adorno

sem sereno

e na verdade

era um caminho sem direção.

Nesse lugar:

pássaros engaiolados,

poetas amordaçados,

pessoas esfomeadas,

almas atormentadas,

e o torpor das redes sociais.

Nesse lugar,

não se pisa sem ter trincado:

o pé,

o solado,

o pneu recapado,

as patas receosas,

a cabeça,

o coração...

Nessa rua,

sem urbanidade,

tudo cheira a civilização.


Fabiana Rocha,

21/10/2021.