terça-feira, 28 de junho de 2016

ASSIM, A POESIA

























Desfiz um poema em segredo
Corrompi a singularidade do eu
Refiz outra coisa qualquer
Nem nosso, nem vosso, nem teu.

Corri a caneta entre uns versos
Pintei-os de azul-cor-de-mar
Desatei-lhes os nós pelos pés
Revesti-lhes de asas a voar

Nascida, esculpida e aluada
Assim reinventei a poesia
Perene fluir de sonhos
O sal, o sol, o pão de cada dia.


Fabiana Gusmão, em 26 de junho de 2016

segunda-feira, 27 de junho de 2016

AOS DOIS ELEMENTOS

Imagem do Google. 


















Pelo sol que agora inunda
Cada fresta amanhecida em mim.
Pela vida que agora excede
Sem princípio, nem meio, nem fim.

Pela água da qual viestes
E dela tudo faz brotar.
Pela indefinível força que exalo
Não podes ver, sentir, nem tocar.

Pelo zelo do amor de amante
Que de longe com os olhos toca.
Pela insondável magnitude da alma
Que aos vazios e rasos sufoca.

Oração aos dois elementos:

Para que não te iguales aos tolos do mundo
Num poço de nada, num fundo sem fundo...

Fabiana Gusmão, em 26 de junho de 2016

terça-feira, 21 de junho de 2016

RESPOSTA

Foto tirada em Serra Grande, BA, em 01/2015.
















- Daqui, de onde te ouço gritar,
tua voz fascina, tal qual o mar!

Assim sussurrou a moça atrevida.

Não era nada novo, bem sabia;
só uns versos eternizados,
agora entranhados,
de quem fora seu, um dia.

- Um amor assim, não finda,
posto que ama, só por amar!


Fabiana Gusmão, em 21 de junho de 2016

sexta-feira, 17 de junho de 2016

SEGREDO À CANÇÃO

Imagem feita no jardim de casa
















Pequena ave sem ninho,
Terna flor sem espinho,
Perfuma teu céu e teu ar.

O beijo roubado no tempo,
A brisa reinventando o vento,
Rodopios em seu caminhar.

O cheiro da terra molhada,
A noite, enamorada
Do sol no alvorecer.

As ondas, na areia deitando,
Fios de luar derramando,
Clareando teu amanhecer.

O verbo riscado em segredo,
O poema escorrido no dedo, 
Acordes de tua canção.   

Fabiana Gusmão, reflexão em 18/02/16

SEM NOME

Imagem do Cemitério do Kadija, localizado
 na periferia do município de Vitória da Conquista - BA.


















Lá fora, onde ruge o vento,
Gente sem dono, sem documento,
Range os dentes, num gemido mudo.
Silencioso gemido de medo e de dor.

Sobe o morro, desce às baixadas;
Vem ver de perto as cruzes fincadas;
Curtas histórias sem fim.
Vidas ceifadas sem clamor.

Chega mais perto, toque a fronte,
Eis a mulher que perdeu seu infante
Cujo sono outrora embalava...
Cujo corpo, sem vida, ora embala.
.............
Ninguém a escuta, ninguém a vê;
Recolhe o menino sozinha;
Sussurra-lhe: a bala, nem doce, nem perdida...
Conta-lhe em segredo todos os sonhos,
Que partiu sem sequer sonhar.
E leva-o, amparado em seus braços,
Uma última vez, enfim!

Fabiana Gusmão, reflexão em 18 fevereiro de 2016.


terça-feira, 14 de junho de 2016

DESEJO

Mirante da cidade histórica, em Porto Seguro, BA. Nov/2016














Entre todas as coisas que existem;
E do que resta agora, apenas peço:
Deixa que eu simplesmente seja
O avesso do avesso, um verso.

Em letras de rubor escarlate,
Nas folhas opacas do tempo.
Deixa-me perder entre as horas,
Bailando nesse pensamento.

Quero ser ave, ser flor
e beijar a face do céu.
Poder caminhar nas alturas,
Escrever meu destino ao léu.

E repousar suave, alegre... assim,
Dona do vento, inventando as horas, sem fim.

Fabiana Gusmão, junho de 2016


quarta-feira, 1 de junho de 2016

HAICAI 3



O olhar preenche o espaço
Entre palavras ditas e vazios gritados.
Só o silêncio não sabe desses ruídos que os olhos fazem...