quinta-feira, 21 de junho de 2012

O MESMO CHAMADO















Ouço no vento
a canção que chama
para uma dança
à luz do luar...
Tambores rufando,
gaitas, violinos
grande roda
põe-se a girar...
Os segredos guardados
no escuro da noite,
no olhar inquietante,
janela da alma!
- Despe o traje pesado!
A que veio?
- Toma da roda a ciranda,
canta, brinca e te acalma!
  
Fabiana Gusmão

sexta-feira, 15 de junho de 2012

AMO-TE















Amo o teu segredo mais secreto.
Amo, amor, por assim dizer...
E digo
Que de todo o teu amor sagrado
não me resguardo, não mais!
Me desmancho ao teu calor
E me refaço plena – Mulher!
E rogo-te que contes em suspiros
O desvelo que tens por mim.
Pois é nesse desapego de amar
sem medo,
que me amparo e te digo em segredo:
Amo-te, amor, por assim dizer!

Fabiana Gusmão

A FALA NOSSA DE CADA DIA















A tua língua é viva,
meu senhor, não larga a lida
e esculpe o teu falar.

Fala de ritmo vibrante,
meu senhor, por mais que tente
toda a gente maldizer.

E maldizem e escarnecem,
meu senhor, ninguém se encanta
nessa gente inculta, a voz.

Tua língua, tua identidade,
meu senhor,  não rasga a seda,
muita história pra contar.

Declama a tua fala rústica,
transborda nessa gente insossa
a doçura de seu cabedal.

Fala sem medo,
a fala nossa de cada dia
e deixa essa gente maldizer...

Fabiana Gusmão

quinta-feira, 14 de junho de 2012

LAMENTO














Só por hoje
quero cantar o meu lamento,
sem eco, sem retorno,
só o silêncio frio e atroz.
Só por hoje
quero escolher a solidão,
seu pranto, sua lástima,
veneno mortal.
Só por hoje
quero estar perdida entre dois caminhos,
escolhas que me destes:
meu mal, ou meu mal.
Só por hoje
quero arrancar da minha carne
a chaga corrosiva
e aplacar a minha dor.
Só por hoje
quero contemplar o vão entre nós.
Existe um NÓS?
Ou estou a sós?
Só por hoje
quero me perder no esquecimento,
na conformidade do nada:
Nada a fazer, nada a esperar.
Só por hoje
quero derramar estas lágrimas ácidas,
que dilaceram a face por onde passam
e morrem na língua, amarguradas.
Só por hoje
quero beber dessa tristeza
que transborda em cálice
e cala toda a esperança vã.
Só por hoje...
Porque amanhã,
Renasço das cinzas,
Como a Fênix mitológica,
Refaço-me do que restou!

Fabiana Gusmão

terça-feira, 12 de junho de 2012

CONTRADIÇÕES


À minha querida e esfuziante amiga-irmã, Eneuda Vaz Sampaio.













O que direi das minhas contradições eternas...
Eu, a calma e a fúria,
a doçura e o fel,
a sensível, a dura...
Eu, intolerância e respeito,
a fragilidade titânica,
a insegurança e a firmeza...
Eu, calada e efusiva,
Solitária em multidões,
uma criança madura...
Eu, saudosa do que virá,
fascínio pelo que não vivi...
Eu que acordo e me deito,
Que acolho e rejeito,
Sou sol, sou luar!
Ora desbravo, ora me escondo,
Ora resguardo, ora comungo
Ora me alegro, ora entristeço.
Eu, eterna em minhas contradições...

Fabiana Gusmão