quarta-feira, 22 de outubro de 2025

QUERER


Quisera eu

ser alguém que não sou.

Quisera outro caminho,

por onde não vou.


Quisera um dia,

só por um momento 

sem depois, nem talvez,

nem ressentimento…


Ser a lua inteira

e esse céu que abriga.

Secar este pranto,

que salgou a vida.


Ser o chão vincado,

por onde pisas

e a estrada erma,

nunca antes vista.


Quisera ser o pão 

que a fome sacia.

Quisera ser o sim

e o não, não seria.


Beber, num sorriso,

nesses lábios morrer.

Aplacar essa sede

e não mais querer.


Fagur (Fabiana Rocha).



 

DEPOIS


Seria perda de tempo,

depois do sol

depois da chuva

de noites memoráveis

e dias inesquecíveis.

Seria perda de tempo,

depois de todo o choro,

depois do riso farto,

de tanto nascer,

crescer,

florir,

morrer.

Seria perda de tempo,

depois da luta extenuante

do descanso tardio,

depois da espera,

da chegada,

e da partida.

Seria perda de tempo,

depois da estrada trilhada,

das encostas,

das paradas,

da luz acesa

e da Lua apagada,

dizer da vida que não vi.

 

Fabiana Rocha.

(Fagur)


 

POEMA DE TI

Quero um poema assim,

com cheiro de chuva,

de semente nova

sob a terra seca,

de broto verde,

de colheita,

de lida

e pão.

 

Poema da cor da esperança,

do verde dos olhos de pai

quando olha pro céu

esperando chuva,

olha pra chuva

e prepara

o sonho,

o chão.

 

Um poema que encha o rio

de água sempre nova,

que lave as pedras

e que ame o leito

e que leve vida 

onde passe

e renasça

no mar.

 

Poema de pássaro em festa

de bem-te-vi e andorinha,

sofrer, canário, acauã 

de beija flor e sabiá, 

de peixe n’água,

alegria n’alma,

de céu

e luar.

 

Quero um poema assim,

que fale com alegria 

e simplicidade.

Que fale de amor 

e saudade,

poema de flor,

de tudo

e de ti.

 

Fabiana Rocha.

(Fagur)


OUTRAS FLORES

A lágrima de cristo é rubra. 
Vermelho cor de sangue. 
Vermelho do lábio da virgem que sangra, mas não é santa. 
A lágrima de cristo não rola pela face contorcida da mãe que geme a dor dos seus filhos. 
Que grita a morte. 
Que chora a fome. 
A lágrima de cristo é um lamento inaudível clamando pelas meninas e meninos sem ilusões. 
A lágrima de cristo colore o meu jardim com seu rubor sem vergonha. 

É noite ainda… e ela imóvel pensa: 
A primavera não tarda e outras flores virão… 

 Fabiana Rocha (Fagur)