Os monstros lambem sorrateiramente os pútridos restos da sua mãe adoecida...
Há dois tipos de monstros.
Os primeiros nascem na dor e na privação se criam; herdeiros de homens há muito violentados, vilipendiados, subtraídos de todo direito, até não serem mais vistos como homens.
A mãe lhes cospe no mundo e lhes cria, roubando-lhes o pertencimento de gente.
Então, os monstros crescem ferozes em ódio, robustos no desejo de devastar quem lhes fez assim.
E a devastam quantas vezes forem possíveis... Matam, roubam, ferem, apedrejam, estupram, violam, vandalizam, devolvendo à mãe tudo que lhes foi ofertado. E ela, percebendo que não mais os tolera, resolve extirpá-los de uma vez da face da terra.
Esses monstros tem vida curta. Não alcançam a maturidade. Cedo tornam-se estatísticas.
Os segundos monstros são filhos da mesma mãe, nascidos em berços abastados, sob o sol da liberdade e à sombra da impunidade, embalados ao som do hino da terra adorada... E ela lhes sorri gentil, bradando-lhes: Filhos! Filhos!
Então, esses monstros crescem gigantes pelas naturezas vis.
Ególatras enxergam somente a si.
A empatia morreu sufocada sob o peso do seu egoísmo.
Tornam-se vorazes consumidores do dinheiro e da maldade, sequiosos de perversidade e escarnecedores das dores alheias.
Alimentam-se de pequenos e grandes flagelos.
E a despeito de tudo o quanto a sua mãe lhes oferece, eles matam, roubam, ferem, apedrejam, estupram, violam, vandalizam.
Em troca, recebem títulos, honrarias, altos cargos e regalias...
Esses monstros tem vida longa. Possivelmente enterrarão a humanidade. Alguns serão tidos como mitos e circularão entre nós sorridentes, com seus colarinhos brancos e engomados, enquanto agonizamos eternamente.
Fabiana Rocha, 26 de abril de 2021.
Texto escrito a partir do desabafo de um professor angustiado.
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