sexta-feira, 23 de julho de 2021

CARTA AO POETA ADORMECIDO




Disse-me um dia o poeta:

“Ando com uma vontade doida de me tornar poeta,

mesmo sabendo que ser poeta dói.”

“É que às vezes a gente adormece...”

Tornou-me a dizer.

“E enquanto adormeço,

ouço música;

caminho nas nuvens;

olho formiga carregando folha;

pardal pulando na porta do bar,

catando migalhas;

um ônibus que passa carregando pessoas e suas angústias e glórias

vistos de minha janela.

Ah! Ia esquecendo:

vejo o relógio que não roda o tempo por falta de pilha...

 

De repente o amor retorna.”

 

Caro poeta de adormecidos versos,

a poesia por certo visita-lhe os sonhos

e canta ao teu ouvido, feito música;

e leva-te por nuvens a caminhar;

desenha aos teus olhos a

grandeza da formiga em sua pequenina obra

e a alegria dos pássaros vagabundeando

na porta do bar.

Escreve, da janela, cada história de angústia e de glória

de pessoas que nem sabes quem são.

E o tempo parece não ter fim.

E o amor parece não retornar...

Parece que Deus esqueceu-se das horas

e o relógio de pilha adormeceu consigo.

 

Às vezes não ser poeta também dói.

Dói porque a poesia adormecida habita em si.


JeanClaudio/Fabiana Rocha



Nenhum comentário:

Postar um comentário