Disse-me um dia o poeta:
“Ando com uma vontade doida de me tornar poeta,
mesmo sabendo que ser poeta dói.”
“É que às vezes a gente adormece...”
Tornou-me a dizer.
“E enquanto adormeço,
ouço música;
caminho nas nuvens;
olho formiga carregando folha;
pardal pulando na porta do bar,
catando migalhas;
um ônibus que passa carregando pessoas e suas angústias e glórias
vistos de minha janela.
Ah! Ia esquecendo:
vejo o relógio que não roda o tempo por falta de pilha...
De repente o amor retorna.”
Caro poeta de adormecidos versos,
a poesia por certo visita-lhe os sonhos
e canta ao teu ouvido, feito música;
e leva-te por nuvens a caminhar;
desenha aos teus olhos a
grandeza da formiga em sua pequenina obra
e a alegria dos pássaros vagabundeando
na porta do bar.
Escreve, da janela, cada história de angústia e de glória
de pessoas que nem sabes quem são.
E o tempo parece não ter fim.
E o amor parece não retornar...
Parece que Deus esqueceu-se das horas
e o relógio de pilha adormeceu consigo.
Às vezes não ser poeta também dói.
Dói porque a poesia adormecida habita em si.
JeanClaudio/Fabiana Rocha
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