sábado, 7 de agosto de 2021

AQUILO QUE NINGUÉM VIU













Não te acompanharei 
à mesa,

à missa,

ao altar.

Não dividirei

o catre,

a farinha,

o jantar.

Não segurarei as tais flores,

vestida de branco,

não serei o seu par.

Não verás o meu ventre,

qual lua cheia, repleto de vida.

Não reclamarei as dívidas,

as dúvidas,

os cuidados,

nem lhe darei os meus.

Vagarei perdida nos sonhos.

É lá onde devo morar.

Como o derradeiro pensamento do dia;

como o primeiro raio de sol;

como o cheiro de figo maduro;

como conchinhas na beira do mar;

como a música que embalou uma década;

como as cartas de amor não escritas…

Como a curva desse riso discreto que ninguém conhece a razão.

Como o rio que alimenta o mar e as vidas ao seu redor.

Como aquilo que ninguém viu.


Fabiana Rocha, 08/08/2021.




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