quarta-feira, 25 de agosto de 2021

O LOUCO


 










A lua teimosa no céu matutino,

delírio de um solitário transeunte,

protagonista do seu próprio sonho,

dança e balbucia sons inaudíveis,

palavras esquecidas no léxico bolorento,

desconexo texto sem idioma.

Ninguém o vê em seu posto,

guardador fiel de suas quimeras...

A calçada é dura.

O inverno treme.

O vento inventa o açoite:

enrijece os músculos,

os cílios,

os dentes,

a voz.

O louco, da calçada sorri

a um bem-te-vi forasteiro

que canta a canção dos degredados

e zomba da desumana sorte

de ser só em meio a humanidade.

O sono é longo demais,

avança por intermináveis dias

nada o desperta,

permanece à deriva.

Sequer a mímica alegre

da criança que brinca

ao redor do contêiner

enquanto a sua mãe cata o sustento

e conta histórias sem final feliz...

O louco ri sonoramente

e regozija-se de sua inconsciência.

 

Fabiana Rocha, 25/08/2021.


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