terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A UM MENINO















Não cabe no algoz sentimento.
Na exatidão, não cabe o delito.
Não cabe consolo no pranto
da mãe que perdeu seu rebento.

Não cabe sonhar o futuro.
Na memória, não cabe a imagem.
Não cabe, meu Deus, tanta dor...
Derrama seu pranto no escuro

Não cabem palavras vazias.
Ao fato, não cabe o sentido.
Não cabe tanta indiferença,
onde falta hombridade, sobra o horror

Não cabe defunto sem choro.
Na cova, não cabe o papel.
Não cabe nenhuma desculpa,
os anjos merecem o céu.

Não cabe na língua o discurso.
Na vida, não cabe ser gente.
Não cabe ser preto, ser pobre,
na Vila que agora é mais triste

Não cabem desaparecidos.
Ao corpo, não cabe exalar.
Não cabe a inocência sumida.
Pés descalços por todo lugar.
..................................................................

Não cabe nada!
Não cabe ser racional!
Animalizemos os atos, sejamos sensatos!
Roubemos o terço!
Rezemos a missa de corpo passado...
Presente?
Ausente...
Futuro já não caberá!

Fabiana Gusmão

6 comentários:

  1. Perfeito, Faby!
    Não cabe humildade em palavras tão belamente esculpidas.

    Beijos.

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  2. Que poesia tocante! Você escreve muito bem!

    Beijos!

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  3. Muito emocionante esse poema!Devido ao acontecido...o sentimento creio que seja realmente o que o poema narra.

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  4. Esse poema é um grito, um alerta. Parabéns!
    Em tempos em que se tenta aprovar a redução da maioridade penal. Restam as poetisas como tu a nos orientar...lindo e forte!

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    1. Esse é dedicado a um menino de 9 anos de idade, desaparecido em dezembro de 2012, possivelmente assassinado por policiais... A mãe até hoje espera por uma notícia, ou quem sabe um corpo...

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